quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Comércio Justo e Sustentável - Glayson Ferrari dos Santos

Olá Gente!

Acabei de fazer uma análise do artigo "Comércio Justo e Sustentável" que Glayson Ferrari escreveu no livro Jardim da Cooperação, editora Ultimato.

Muito interessante o artigo e não vejo a hora do livro chegar para que eu possa degusta-lo

abraços

Lauberti Marcondes
http://diaconia-integral.blogspot.com/

Comércio Justo e Sustentável

Neste texto, o autor Glayson Ferrari dos Santos, trata da possibilidade de construir oportunidades econômicas mais justas através do “Comércio Justo e Solidário”. Para tanto, ele evoca conceitos biblico-teológicos, faz uma análise histórica do comércio internacional e pontua como esta forma de comércio justo pode ser uma alternativa econômica. É um artigo muito interessante, que fala de como surgiu este conceito e como ele é tratado no Brasil.

Na introdução, o autor procura demonstrar como os conceitos bíblicos orientam o ser humano a buscar relações comerciais mais justas e solidárias. Segundo ele, o mandato entregue ao homem por Deus para (cuidar) e dominar a terra, enfatiza a questão de poder e autoridade, mas que ao longo da história “foram usados como tradução dos termos egoísmo e edonismo”, algo que “acentuou na nossa sociedade um muro que separou pelo menos dois mundos de pessoas: as pobres e as ricas”. Ou seja, uma vez que o exercício desde domíno humano não foi segundo as orientações divinas ele produziu desigualdes sociais, uma lógica que é confrontada e invertida pelo conceito de serviço ao próximo introduzido por Jesus nos Evangelhos.

Desfa forma, o autor começou introduz o conceito bíblico da responsabilidade humana e seu mau uso, ressaltando que o plano de Deus não tem parte com este movimento marcado pela injustiça e pela exploração. Ele chama os seguidores de Cristo a batalhar pelo resgate do projeto divino. Este chamado é feito a partir do conceito de encarnação, que fala da espiritualidade que permeia “a vida cotidiana”, condenando a falsa dicotomia: espiritual x material. Algo que é essencial para um maior envolvimento cristão nas questões sociais, mas que poderia ter explorado também o exemplo encarnacional de Cristo, modelo e referência de seus seguidores.

O autor utiliza o conceito de mordomia cristã para concluir a parte da fundamentação, mostrando como os cristãos devem encarnar o modelo de Deus para exercer o domínio sobre o mundo através de uma atitude servidora. Penso que o autor foi muito feliz com esta introdução, pois além de uma crise teológica, temos uma crise de comportamento no meio evangélico.

Num mundo onde a economia reduz os postos de trabalho mais simples e aumenta as exigências de qualificação profissional para os novos empregos, os pobres estão cada vez mais sujeitos às injustiças. É neste cenário que os pequenos produtores estão migrando para o empreendedorismo informal ou unindo-se em grupos solidários para enfrentar os fatores que os impedem de acessar o mercado de forma mais justa.

Segundo o texto, esta é uma séria razão para os representantes do Reino de Deus entenderem que devem participar mais ativamente no processo de trazer justiça sobre a terra, evitando um caos completo na sociedade. Essa participação pode ser no sentido de colaborar para a eficácia organizacional de pequenos produtores, auxiliar no desenvolvimento da produção ou melhorar os processos de comercialização desses produtores.

Entretanto, esclarece que o principal fator que gera desigualdades são as estruturas econômicas vigentes. Algo que requer atuação no campo político, compreendendo os processos de decisão e influenciando as políticas nacional e internacional, as grandes empresas e, principalmente, os consumidores, pois entende que eles têm um papel fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável através do Comércio Solidário.

Achei interessante a forma como o texto equilibra as ações que precisam focar no campo da operação do comércio e aquelas que devem focar na estrutura do comércio, especialmente num país onde a carga tributária é um dos principais fatores que geram desigualdades sociais, pois os mais pobres pagam, proporcionalmente, mais impostos que os ricos, algo que inclusive o autor poderia ter mencionado.

O texto propõe que a Economia Solidária é a alternativa para construir uma economia justa e inclusiva, através de processos econômicos eqüitativos. Cita que o movimento no Brasil impulsionou a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária – Senaes, além de conferências, fóruns e o mapeamento dos empreendimentos solidários. Esclarece que, atualmente, o grande desafio do setor é concretizar os processos econômicos com os grupos que foram mobilizados, resolvendo o problema do acesso aos mercados.

É interessante o texto citar que o Comércio Justo nasceu na Europa, inicialmente, liderado por movimento de igrejas como forma de solidariedade, pois eu nunca tinha ouvido isso, o que me fez pesquisar e descobrir que se tratava, inicialmente, de grupos de jovens católicos holandeses que descobriram que a ajuda que faziam aos pobres não alterava as relações injustas pois não incidiam sobre as causas da miséria, o que gerou a proposta do “Comércio e não ajuda” para resolver a questão da injustiça social, algo que me causou uma agradável surpresa.

Apesar de no início ser um processo bem voluntário, o texto informa que atualmente as organizações se qualificaram e se especializaram nas diferentes frentes do comércio justo, tendo como principais valores a equidade entre homens e mulheres, a não-exploração da mão-de-obra infantil, a sustentabilidade ambiental, o preço justo, as relações solidárias e a transparência. Nesse movimento o Brasil passou de mero exportador de alguns produtos para um importante papel de influenciador das políticas internacionais.

No âmbito nacional o destaque é para o FACES, o Fórum de Articulação de Comércio Ético e Solidário do Brasil, que tem o objetivo de manter uma rede bastante conectada e ativa para potencializar as ações institucionais, ganhar força na mobilização e ter uma proposta política que, de fato, represente os interesses dos pequenos produtores, algo que é fundamental no momento em que o Senaes discute a normatização do Comércio Justo e Solidário no Brasil.

A partir de então, o texto passa a descrever algumas ações da ONG humanitária-cristã, Visão Mundial, que faz parte do FACES e tem atuado desde 1999, de forma pioneira, para fomentar o Comércio Justo e Solidário no Brasil, realiza através de ações como o Comércio Justo - Programa de Desenvolvimento Econômico e Justo, que assessora cerca de 6.000 pequenos produtores, da empresa Ética Comércio Solidário, que se dedica 100% ao comércio justo, através de seminários, publicações, exposições e diálogo com universidades, governos, empresários e a mídia.

Na ultima parte, recebem destaque alguns programas da Visão Mundial em parceria com a Igrejas evangélicas no nordeste do Brasil, algo que nos enche de esperança. Concordo com o autor quando diz que o Comércio Justo e Solidário é uma excelente ferramenta dada por Deus e que pode ser usada para promover a plenitude da vida na sociedade. Quanto a questão do engajamento cristão, parece que a Igreja precisa ser sempre exortada, mas neste artigo este aspecto toma uma direção nova pelo encorajamento dos exemplos citados. Enfim, achei o texto muito interessante e esclarecedor, um verdadeiro convite a esta proposta de revolução comercial que esta embebida de valores do Reino de Deus.
 
Glayson Ferrari dos Santos: Oficial de Programas do Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento nos temas de Desenvolvimento Humano Local e Desenvolvimento Econômico. Ex-Assessor Internacional do Gabinete do Ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Ex-Gerente Executivo de Comércio Solidário da ONG Visão Mundial, Mestre em Liderança e Desenvolvimento pela Eastern University, Especialista em Desenvolvimento Local pela OIT, Especialista em Comércio Internacional pela UFPE , Administrador de Comércio Exterior pela Newton Paiva, membro da Segunda Igreja Batista do Plano Piloto no DF. Consultor voluntário em diferentes projetos missionários e de igrejas.
 
O PROF. GLAYSON FERRARI MINISTROU O MÓDULO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NO CURSO DE MISSÃO INTEGRAL DO SEMINÁRIO DO BETEL BRASILEIRO.

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