sábado, 18 de junho de 2011

Declaração da Consulta de Lausanne: Livra-Nos Do Mal

Em 2010 na Cidade do Cabo, Africa do Sul, reuniram-se cristãos de diversas partes do mundo e consolidaram uma declaração que veio sendo construida ao longo da história do movimento de Lausanne sobre a questão da batalha espiritual na qual todos nós estamos inseridos. Se após ler esta introdução e base teológica se interessar, a declaração completa esta no site do movimento no link abaixo.

Abraços

Lauberti Marcondes
Aluno da 1ª turma do Curso de Missão Integral
http://diaconia-integral.blogspot.com/


Livra-Nos Do Mal


Introdução

A batalha espiritual é uma área emergente, porém desconfortável, dentro do esforço de levar todo o Evangelho para o mundo todo. Entusiasmo e preocupação estão lado a lado. Tentando lidar com as várias e complexas questões que envolvem este assunto, trinta ministros de libertação, missiólogos, pastores e teólogos encontraram-se em Nairóbi, no Quênia, durante os dias 16 a 22 de agosto de 2000. Juntos discutimos questões ligadas à batalha espiritual numa conferência denominada "Livra-nos do Mal", convocada pelo Comitê de Lausanne para a Evangelização Mundial e pela Associação dos Evangélicos na África. O objetivo da consulta foi buscar uma compreensão abrangente e bíblica sobre: (1) quem o inimigo é; (2) como ele atua; e (3) como podemos combatê-lo para podermos ser mais eficazes na evangelização de todos os povos.

Nosso grupo incluiu ministros de libertação e de ministérios de oração da América Latina, África, Ásia, Europa, Austrália e dos Estados Unidos da América; pastores e líderes evangélicos da África e América do Norte; um executivo de uma agência de assistência social e desenvolvimento; um psicólogo africano que trabalha na América do Norte; teólogos da Ásia, Europa e América do Norte; missionários que atuam na África e na América Latina; executivos de missão da Europa e América do Norte; e professores de missiologia da América do Norte e Europa. Entre nós estiveram presbiterianos, pentecostais, metodistas, anglicanos, luteranos, batistas e membros da Igreja Evangélica da África Ocidental, Igreja do Sul da Índia, Igreja Profética Berachah, Igreja Evangélica da Aliança, Igreja dos Irmãos, Aliança Cristã e Missionária, e Bible Church (Estados Unidos).

Observamos com interesse que a maioria dos participantes da consulta provenientes de sociedades ocidentais veio a reconhecer as realidades do invisível ou do âmbito espiritual como resultado da sua experiência transcultural. Aqueles oriundos do "Mundo dos Dois Terços" (**) freqüentemente reportavam suas experiências com missionários ocidentais que, por desconhecerem estas realidades espirituais, estavam portanto incapacitados para ministrar às realidades espirituais que as pessoas do Mundo dos Dois Terços vivenciam diariamente.

Como nos encontramos em Nairóbi, pudemos aprender com as idéias dos irmãos e irmãs da África Oriental e do movimento de reavivamento que ali se opera. Afirmamos especialmente a forma como os nossos irmãos e irmãs da África Oriental exaltam a Jesus, e este crucificado, diante da batalha espiritual. Reconhecemos de forma renovada que o único caminho para se quebrar o poder de Satanás na vida diária, na sociedade e na cultura é andando na luz, para que Satanás não possa nos prender na escuridão.

Como expressamos na oração "livra-nos do mal", oramos para sermos libertos do pecado pessoal, dos males naturais, de espíritos e poderes malignos e do mal na sociedade.

Origens

Nosso ponto de partida inclui a Declaração de Lausanne, o Manifesto de Manila e a Declaração do Comitê de Lausanne para a Evangelização Mundial de 1993 sobre a Batalha Espiritual, que afirmam a realidade do nosso engajamento na batalha espiritual:

Cremos que estamos engajados numa constante batalha espiritual com os principados e poderes do mal, que procuram derrubar a igreja e frustrar sua tarefa de evangelização mundial. (Declaração de Lausanne, 1974)

Afirmamos que a batalha espiritual demanda armas espirituais, e que precisamos pregar a Palavra no poder do Espírito e clamar constantemente para que possamos nos inserir na vitória de Cristo sobre os principados e poderes do mal. (Manifesto de Manila, 1989)

Concordamos que evangelizar é trazer pessoas das trevas para a luz e do poder de Satanás para Deus (Atos 26.18). Isto envolve um inevitável elemento de batalha espiritual. (Declaração de Lausanne sobre Batalha Espiritual, 1993)

A Conferência e seus participantes reconhecem a relevância da batalha espiritual para a evangelização mundial. Não estamos tentando tomar o partido de nenhuma visão em particular, mas expandir o pensamento evangélico numa área emergente na qual existem controvérsias. Esta Declaração indica áreas nas quais há comum acordo, áreas de tensões não resolvidas, advertências, e aponta áreas que ainda precisam ser estudadas e exploradas mais a fundo. Nossa intenção é encorajar as igrejas de todas as tradições a usarem esta Declaração para estimular uma discussão franca, uma reflexão séria e um ministério prático na área da batalha espiritual, para glória de Deus.

Base comum


Afirmações teológicas

Nós afirmamos o testemunho bíblico de que as pessoas foram criadas à imagem de Deus para viverem em comunhão com ele, em comunhão com outras pessoas e como mordomos da criação de Deus. O relacionamento entre Deus e a humanidade foi quebrado por meio da entrada misteriosa do mal na criação de Deus. Desde a queda o mal tem influenciado todos os aspectos da criação e da existência humana. O plano de Deus é redimir e restaurar sua criação caída. O propósito redentor de Deus é ser revelado e percebido na história da salvação, e plenamente no evangelho da encarnação, morte, ressurreição, ascensão e volta de seu Filho, Jesus Cristo. Nós somos chamados a participar na missão de Deus de combater a maldade e o maligno a fim de restaurar o que foi destruído como resultado da queda. Vivemos num mundo em tensão entre o Reino que já veio em Cristo e a realidade contínua do mal. A missão de Deus será consumada quando Cristo voltar, o Reino de Deus vier com poder e o mal for destruído e eliminado para sempre.

1. Chamar pessoas para a fé em Cristo, convidando-as para serem libertas do domínio das trevas e ingressarem no Reino de Deus - é o mandato missionário para todos os cristãos. Afirmamos uma compreensão integral da evangelização, que encontra sua fonte no relacionamento com Cristo e no chamado que ele nos faz para que nos tornemos íntimos com ele na comunhão dos crentes. O Espírito Santo nos capacita para a evangelização mundial através dos ministérios da palavra (proclamação), da ação (serviço e ação social) e do sinal (milagres, encontros de poder), todos eles inter-relacionados e que acontecem no contexto da batalha espiritual.

2. Satanás é um ser real, pessoal e criado. Satanás tentou Jesus no deserto, procurou destruí-lo e, ainda à luz da manhã da ressurreição, viu-se derrotado. Ele continua opondo-se ativamente à missão de Deus e à obra da igreja de Deus. (1)

3. As potestades e principados são seres ontologicamente reais. Eles não podem ser reduzidos a meras estruturas sociais ou psicológicas. (2)

4. Satanás age tirando aquilo que Deus criou para o bem-estar humano e pervertendo-o através dos seus propósitos, que são destruir e desvalorizar a vida escravizando indivíduos, famílias, comunidades locais e sociedades como um todo. Satanás contextualiza seus esforços de diferentes maneiras nas várias sociedades e culturas.

5. Satanás usa artimanhas numa tentativa de redirecionar a lealdade humana para alguém ou alguma outra coisa que não Deus. Isso ele faz, não apenas no nível pessoal, mas em relação a todas as formas institucionalizadas de alianças religiosas ou ideológicas, inclusive a igreja.

6. Satanás e "os principados e potestades, os dominadores deste mundo tenebroso, as forças espirituais do mal nas regiões celestes" agem de várias maneiras: (3)

a. Enganando e distorcendo
b. Tentando a pecar
c. Afligindo o corpo, as emoções, a mente e a vontade
d. Assumindo controle sobre uma pessoa
e. Desordenando a natureza
f. Distorcendo os papéis da estrutura social, econômica e política
g. Apontando bodes expiatórios como meio de legitimar a violência
h. Promovendo interesses pessoais, injustiça, opressão e abuso
i. Através da esfera do oculto
j. Através das falsas religiões
k. Através de todas as formas de oposição à obra salvífica de Deus e à missão da igreja.

7. Um propósito primordial da vida e ministério de Jesus foi expor, confrontar e derrotar Satanás, e destruir a sua obra.

a. Cristo derrotou decisivamente Satanás na cruz e através da ressurreição.
b. Jesus confrontou Satanás através da oração, justiça, obediência e libertando os cativos.
c. Com sua maneira de ministrar às pessoas ele estabeleceu um enorme desafio às instituições e estruturas do mundo.
d. Os cristãos compartilham da vitória de Cristo e recebem dele autoridade para se opor aos ataques de Satanás na vitória que temos em Cristo. (4) O modelo de autoridade espiritual é Jesus e sua obediência e submissão a Deus na cruz.

8. Ao mesmo tempo que reconhecemos que Deus está soberanamente no controle de sua criação, as evidências bíblicas indicam uma variedade de causas de doenças e calamidades: Deus, Satanás, escolhas humanas ou traumas e um universo desordenado, são todos citados. Entendemos que não podemos saber com certeza a causa exata de nenhuma doença ou calamidade específica.

9. Os elementos de uma visão de mundo que seja cristã dentro de nossos respectivos contextos culturais devem incluir:

a. Deus é o criador e mantenedor de tudo o que existe, tanto das coisas visíveis quanto das invisíveis. Essa criação inclui os seres humanos e os seres espirituais como criaturas morais.

b. As pessoas foram criadas segundo a imagem de Deus, de modo que os aspectos da pessoa humana estão inseparavelmente interligados. Corpo, alma, emoções e mente não podem ser dissociados.

c. Deus continua sendo soberano sobre toda a sua criação na história, e nada acontece fora do controle supremo de Deus. Assim, o mundo não pode ser concebido como um universo fechado simplesmente governado por leis científicas naturalistas. Nem pode ser considerado um sistema dualista no qual Satanás é entendido como sendo igual a Deus.

d. Nós rejeitamos uma visão dualista de mundo. Portanto, as bênçãos de Deus e o sacerdócio das hostes angelicais, as conseqüências do pecado e os ataques de Satanás e dos demônios não podem ser isolados, colocados unicamente em uma esfera espiritual.

e. Qualquer ensinamento sobre batalha espiritual que nos leve a temer o Diabo a ponto de perdermos nossa confiança na vitória de Cristo sobre ele e no poder soberano de Deus em nos proteger precisa ser rejeitado.

f. Todas as questões que dizem respeito à batalha espiritual devem ser encaradas em primeiro lugar e principalmente em relação à nossa fé e ao nosso relacionamento com Deus, e não simplesmente a técnicas que precisemos dominar.

g. A volta de Cristo e a consumação definitiva da sua vitória sobre Satanás nos dá hoje a confiança necessária para lidar com as dificuldades espirituais e nos fornece a lente através da qual devemos interpretar os eventos no mundo hoje.

10. A pessoa e a obra do Espírito Santo são centrais na batalha espiritual: (5)

a. Ter recebido o poder do Espírito Santo, o exercício dos dons espirituais e a oração são pré-requisitos para se engajar no conflito espiritual.

b. O exercício dos dons espirituais deve ser acompanhado pelo fruto do Espírito.

c. A obra do Espírito e a Palavra precisam permanecer juntas.

continua ...

Fonte: http://www.lausanne.org/pt/all-documents/consultation-statement.html